sábado, 10 de julho de 2010

Miranda

Deitou o corpo sobre uma colcha vermelha, o corpo esguio e branco. Sua coxa, levemente levantada como a cobrir o sexo nú. Tampou os olhos e disse:
__Você sabe que depois eu te matarei, não sabe?
__Sim.
__Então...Por quê insiste em se deitar comigo?
__Porque eu amo você. Porque eu sei que sou o único que te amou e que teve coragem para demonstrar. Justamente porque eu te amo eu quero que você sinta como é ser amada, mesmo que isso me custe a vida.
__Por que?- Disse com lágrimas nos olhos.
Seus cabelos loiros caidos sobre o rosto, cubrindo a vermelhidão de seus olhos, o rosado de sua boxexa, cobrindo as palavras que lutava para engolir.
__Porque eu quero. Eu simplesmente quero. Por que você se importa, eu estou pagando.
__Porque...-Quase dissera, mas um soluço repentido cortou suas palavrase a paralisou.- Porque...Nada...
Puxou seu amante e beijou-o nos lábios, abraçou-o, mordeu-o.
Deitaram-se então, durante algumas horas permaneceram juntos. Sabia que eram os ultimos momentos de vida de seu amante, e que como obrigação devia proporcionar-lhe o maior gozo que jamais tivera, portanto permaneceu com ele durante toda a noite.
De todos os sacríficios que fez para dar-lhe o prazer, o único que não pode fazer foi deixar de lamentar. Durante todas as horas, permaneceu a chorar, silenciosamente, com fios de lágrimas descendo peloas suas boxexas, agora brancas, agora tristes.
Dormiu em seus braços, beijando-o, acariciando-o mesmo em sonhos. Miranda sabia que cometia um erro, que não podia lamentar, que devia apenas gozar e cumprir seu dever...Miranda sabia, mas não podia resistir e cada vez mais encontrava formas de amar mais aquele homem.
Pois assim permaneceu a noite, lamentando, até o sono cair e fechar-lhe os olhos. Em sua cabeça permanecia junto ao seu amante, mas agora eram felizes. Se beijavam e se abraçavam sem nenhuma sombra por tráz, sorriam e se amavam...Um casal correndo pelos corredores de um casa, as mãos dadas, a mulher alta, com longos cabelos negros, pele queimada e olhos escuros. O rapaz esguio e loiro, de olhos verdes e pele branca, com boxexas rosadas pelo esforço de correr...Atravessavam portas e salas, sempre juntos...Mas então a mulher, morena e bonita, empurava seu companheiro de um precipício, empurrava-o simplesmente, e então voltava a ser loira, branca e triste.
Quando Miranda acordou, vestiu-se rapidamente, foi para o banheiro, lavou o rosto e respirou fundo. Puxou uma gaveta, de onde tirou uma grande faca, cinzenta, bonita, manchada...Voltou para a cama com a faca em suas mãos. Beijou o homem com quem dormira, beijou-o e ele acordou.
__Tente me impedir, me mate.-Pediu Miranda.
__Nunca.
__Me mate.Por favor.
__Não.
Então o homem tomou-a mais uma vez em seus braços, beijando-a de forma tão amorosa que fez com que Miranda rompesse em lágrimas. Separou-se de seu amante, recompôs-se, e ficou a tomar coragem.
__Acho que ja é hora.- Disse o homem complacente.
__Só mais alguns minutos, por favor.- Pediu Miranda.
__Sim.
Miranda então se despiu novamente, e deitou ao lado do homem, enterrou seu rosto no peito musculoso, abraçando-o. Permaneceu assim por alguns minutos, levantando-se então e beijando-o.
__Adeus, meu amor.- Disse o homem.
__Eu te amo.- Concluiu Miranda enterrando a lâmina no peito do homem a quem amava.
Beijou-o e permaneceu segurando sua mão até que morresse, ao seu lado. Quando o corpo já inerte e frio, Miranda levantou-se, vestiu-se e saiu.

Um comentário:

Stella disse...

Porque os seus contos sao sempre tao perfeitos? ME DIZ QUAL A SUA MÁGICA PEDROPAIVA!

beijos
PS: Sabe que eu quase esqueci completamente de todos os blogs?